.png)
Sinopse: Obcecado pela criação da vida, Victor Frankenstein saqueia cemitérios em busca de materiais para construir um novo ser. Mas, quando ganha vida, a estranha criatura é rejeitada por Frankenstein e lança-se com afinco à destruição de seu criador.Autor: Mary ShelleyAno de publicação: 1 de janeiro de 1818
Entrei em contato com Frankenstein por meio de um clube do livro e como muita gente, eu só conhecia a história pela versão popularizada nos filmes e aquela imagem clássica do “monstro verde” e o famoso grito “Está vivo!”. Por isso, foi uma surpresa descobrir que o foco do livro não está tanto na criatura, mas sim em Victor Frankenstein, seu criador. E um pequeno Spoiler: o tal grito... não existe!
A leitura começou de forma um pouco monótona, confesso, mas com o desenrolar da história ela se tornou envolvente e, principalmente, reflexiva. É um daqueles livros que, quando você menos espera, te faz pensar em questões profundas sobre responsabilidade, abandono e solidão, mas se tem uma coisa que Frankenstein me fez sentir, foi raiva, e muita raiva, e tudo isso graça a Victor Frankenstein.
Victor Frankenstein é, para mim, um dos personagens mais insuportáveis que já li. Um homem vaidoso, inconsequente, covarde que sonha em ser reconhecido no meio cientifico como um grande criador, quase como um Deus moderno, mas no instante em que sua criação não corresponde às expectativas estéticas e idealizadas que tinha, ele a rejeita. Ele não assume responsabilidade por seus atos em nenhum momento, muito pelo contrário: se coloca o tempo todo como vítima de uma tragédia, ele se assusta com o que criou e, em vez de enfrentar as consequências, abandona tudo, a criatura, a ética, os afetos. Essa recusa em assumir a culpa me revoltou, ele foge, se esconde atrás de discursos melodramáticos e se recusa a olhar nos olhos do que causou. Victor Frankenstein não é um mártir da ciência, ele é um egoísta mimado, movido pela própria vaidade e incapaz de sustentar os próprios atos.
Já a Criatura (a quem carinhosamente apelidei de Cleiton) me causou pena desde o início, na minha concepção, ele é como uma criança abandonada, jogada no mundo sem apoio, sem amor, sem guia... Tudo que aprendeu foi sozinho, e tudo que recebeu foi ódio, então não é surpresa que ele tenha replicado essa dor. Suas ações são questionáveis? Sim, mas compreensíveis, afinal ele só queria ser amado, acima de tudo, a atenção do seu “pai”, Victor. E se a única forma de ser notado fosse sendo odiado, então que fosse assim.
Há uma dualidade muito forte entre Victor e sua Criatura, como se fossem dois extremos de uma mesma existência, reflexos distorcidos um do outro. Enquanto Victor representa a vaidade, a negação e a fuga da responsabilidade, a Criatura é a personificação do abandono, da necessidade de afeto e da busca por pertencimento. O mais trágico é que, mesmo sendo opostos em tantas coisas, eles estão presos um ao outro por um laço inquebrável, quase simbiótico, um não existe sem o outro, Victor nega a Criatura porque ela o confronta com seu fracasso, sua humanidade, seus limites, a Criatura persegue Victor porque, mesmo odiando-o, deseja ser reconhecida por ele, ser validada, ser vista. Essa tensão entre criador e criação, amor e ódio, orgulho e arrependimento, atravessa todo o livro como um fio invisível que amarra seus destinos, e, no fim, é como se um fosse a punição do outro: Victor é perseguido por sua irresponsabilidade, e a Criatura, pela ausência de afeto. São antagonistas, mas também pai e filho trágicos, unidos pelo vazio que deixaram um no outro.
Entre os temas mais marcantes, destaco a ambição desenfreada de Victor, de ser celebrado por ter criado a vida, de ter brincado de Deus, mas ele fracassa, seu fracasso está na vaidade: ao não criar algo digno de sua própria admiração, ele abandona sua obra, o que gera todos o problemas que, para ele, não é justo estar tendo. Outro ponto debatido na reunião do clube do livro e que me chamou atenção foi o afeto entre homens na história, pois é nítido a constante busca por aprovação e companhia masculina, enquanto as mulheres aparecem como figuras idealizadas e secundárias.
Sobre a escrita da Mary Shelley, achei agradável e fluida, mesmo com um início mais lento, o texto é bem construído e proporciona uma boa imersão, não teve uma passagem específica que me marcou mais do que o todo, mas a trajetória emocional da Criatura foi, sem dúvida, o ponto alto da obra para mim. Recomendo a leitura, não apenas por ser um clássico da literatura, mas porque é uma obra que mexe com a gente, provoca sentimentos intensos e nos faz pensar. E, sim, sentir ódio de certos personagens é absolutamente normal. No meu caso, foi inevitável.
.png)
Oi Gabi, gostei muito da resenha. Consegui ter muito bem a ideia de como é a história que eu também só conheço pela fama. Nunca peguei para ler. Victor me lembra o protagonista de 'O Homem Invisível' (H. G. Wells). Apesar da "criatura" ser o próprio cientista aqui, ele é uma pessoa horrível cuja arrogância é uma das características mais marcantes.
ResponderExcluirBoa sorte com o novo emprego!
Até breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)
Olá, Gabi.
ResponderExcluirAinda não li essa obra e resenha você pode escrever do jeito que quiser. Eu não costumo dar spoiler, apenas destaco os trechos que gostei.
beijos e sucesso no novo emprego
www.luluonthesky.com
Hola Gabi! Frankenstein es uno de mis libros favoritos, y la pasión con la que uno puede llegar a detestar a Victor es parte del encanto del libro, al final las letras logran movilizarnos emocionalmente, encuentro maravilloso eso.
ResponderExcluirMe dieron ganas de volver a leer el libro! Jjajajaja
Que tengas una linda semana, saludos!
cosmic dreaming ᡣ𐭩 •。ꪆৎ ˚⋅
Oi Gabi! Eu não leio muitos clássicos, mas esta obra é uma que quero conferir. Conheço a história apenas por adaptações e deve ser ótimo ler o original para maiores detalhes. Bjos!!
ResponderExcluirMoonlight Books
@moonlightbooks
vc arrasou na resenha, juro! eu nunca tive vontade de ler frankenstein, de todos os clássicos, é o que menos me chama atenção, mas depois de ler sua resenha, fiquei curiosa pra dar uma chance. gosto de personagens complexos, mesmo que eles sejam insuportáveis kkkkk vou adicionar na minha lista
ResponderExcluirbeijinhos, nanaview 💌
Oi Gabi! Esse livro tá na minha lista de 30 livros antes dos 30 e eu tenho muita curiosidade para embarcar nessa aventura de ler o original e se desfazer das percepções que vieram com as adaptações. Amei a sua resenha, acho que você deveria fazer mais. Esse rolê de esperar um pouco para digerir a leitura e depois resenhar faz toda diferença para mim.
ResponderExcluirGarota do 330